Fonte: Arquivo pessoal
A minha caminhada na alfabetização iniciou-se antes mesmo de eu ingressar na
1ª série do fundamental I. Eu sempre fui muito encantada pela leitura, e o meu pai, formado
em magistério, exercia o ensino tradicional domiciliar comigo e com meu irmão, desde os meus três
anos de idade. Portanto, aos quatro anos eu já conseguia ler e escrever muitas palavras. Estudei em uma escola integral por 3 anos, e aos 6 comecei a alfabetização em outra escola.
Magda Soares afirma que "os aprendizes, sejam eles crianças ou adultos, precisam, para além da simples codificação/decodificação de símbolos e caracteres, passar por um processo de “compreensão/expressão de significados do código escrito” ou seja, ler e escrever precisa envolver
compreensão e significados. Iniciei a 1ª série que se dedicava ao
maior tempo escolar envolvendo o estudo da escrita, leitura, matemática e as
demais disciplinas, as atividades lúdicas aconteciam somente nos momentos de
recreação segundo o método sintético da alfabetização.
A internalização das
letras, dos sons e do código escrito não ocorria através da significação que
elas tinham para as crianças, somente seguindo o plano de aula linear do
professor, pois se valorizava muito a língua escrita enquanto a oral era
discriminada no processo de alfabetização. Caligari explicita que "a alfabetização gira em torno de três aspectos
importantes da linguagem: a fala, a escrita e a leitura" e embora, no meu percurso escolar a fala tenha sido negligenciada, eu conseguia internalizar bem os códigos linguísticos.
.Meu pai seguia nos ensinando em casa, seguindo o método tradicional eu
era obrigada a fazer inúmeras cópias de textos, caso acontecesse erros
ortográficos a palavra escrita errada deveria ser reescrita exaustivamente até
ser decorada, bem como as tabuadas que se não fossem decoradas havia punição
com palmatória. O processo mais doloroso da minha alfabetização além de mudar
de cidade foi a forma como eu iniciei ela com tanta restrição, punições,
exaustão. As minhas primeiras palavras lidas foram junto ao meu irmão que por
ser um ano mais velho já me ajudava na construção da leitura e escrita, visto
que foi em casa que eu desenvolvi as primeiras práticas de alfabetização.
Percebo uma concepção muito forte que defende a
antecipação da escolarização, e tal escolarização precoce ocupa o tempo da
criança (FARIA, MELLO, p. 24, 2005). As horas de brincadeiras eram substituídas
por horas lendo e copiando textos longos e por vezes densos, era necessário
desenvolver o hábito da escrita e da leitura, exceto da fala e da autonomia o
que difere do que Paulo Freire aborda no “método” de alfabetização criado por
ele quando avança na analise e síntese das palavras ocorre através de uma
palavra real, em que o aprendiz conheça.
O processo de aprendizagem da leitura e escrita constitui um papel muito importante na formação da criança, em sua autonomia e perspectiva de mundo. Hoje, consigo compreender a alfabetização como
um ato emancipatório, político e desbravador, ao qual, tenho admirado cada vez que conheço mais, que aprendo mais. É necessário trazer para a criança situações, textos e atividades que a envolvam no seu contexto social e cultural. Não é uma tarefa fácil, mas se torna imprescindível, visto que a compreensão da leitura e escrita pode torná-los cidadãos conscientes do seu lugar, ativos e críticos.
Fonte: arquivo pessoal
Oi Roberta,
ResponderExcluirVocê mantém o mesmo padrão de escrita das memórias de educação infantil, articulando suas memórias as teorias estudadas no curso de Pedagogia. Senti falta de uma crítica as punições e castigos que vc sofreu nesse período.
Me emocionei! Seu processo de alfabetização foi bastante complexo; só de ouvir a palavra palmatória já fico assustado. Mas fico feliz de saber que no final deu tudo certo.
ResponderExcluirMe identifiquei muito com seu relato. Infelizmente vivenciei os mesmos dilemas no processo de alfabetização, mas que bom que vencemos. Sucesso!
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